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A indústria fonográfica se merece

Acabei de ler esta semana O Culto do Amador, do Andrew Keen. Ele defende ardorosamente os empregos que a indústria da música gera, a cadeia produtiva de distribuição e o sistema de distribuição de royalties. Tenho vários pontos de vistas discordantes, mas deixo-os para a resenha do livro, que termino esta semana.

Porém um fato me fez consolidar minhas convicções de que a indústria da música envelheceu, definhou e caminha convictamente para um abismo. Ontem à noite fiquei muito mais decepcionado com a indústria da música do que já estava antes.

Sempre fui comprador de CD’s e continuo gostando de ter a música em formato de CD, para algumas bandas que gosto muito. A qualidade do MP3 é ruim, então ainda prefiro CD’s.

Quando capotei o carro, um dos CD’s que se perdeu foi o Sacred Fire – Live In South America, do Santana. Semana passada fiz um pedido de vários itens no Submarino e resolvi recomprar este CD do Santana.

Ao recebê-lo, duas coisas me decepcionaram:

1) O CD veio numa embalagem porca, chamada pela Universal Music de “ecopac“. Não é um Digipak, aquelas embalagens feitas de papel de qualidade, com alta qualidade gráfica. O tal ecopac é um papelão de baixa qualidade, com impressão de baixa definição (quase borrada) e o suporte do CD é um tipo de isopor de alta densidade. Quando vi a embalagem, me deu vontade de devolver o CD. Me arrependi da compra. Talvez não compre mais CD’s online sem ter certeza de que a embalagem é decente.

Fiz uma busca rápida no Google e descobri vários sites divulgando o ecopac, reproduzindo um press-release da Universal Music. Não me convenceu. O apelo ecológico da embalagem não cola. Não compro um CD com a intenção de reciclá-lo, nem me preocupa que a embalagem seja biodegradável, o grande apelo do ecopac. Quando um CD risca, eu jogo o encarte no cesto de reciclagem de papel e o plástico no cesto de plástico. Simples.

Para mim, fica parecendo uma tentativa de embarcar na onda do ecologicamente correto só porque é moda e – teoricamente – os consumidores mais sensíveis ao apelo ecológico tenderiam a considerar este diferencial.

Mas, por outro lado, mostra da parte da Universal um descolamento das reais necessidades do consumidor de música. Se fosse pra comprar um CD porco, me sairia mais barato baixar as MP3 em alta qualidade do iTunes.

2) A segunda decepção é que o Submarino anuncia o CD como importado, sendo que de fato ele é feito na Zona Franca de Manaus. O fato de ser ou não importado nem me faz diferença, sinceramente prefiro comprar produtos fabricados no Brasil. Mas o fato do site cadastrar um produto e entregar outro causa decepção.

Veja algumas fotos da embalagem ecopac:

Considerando que a Universal Music é um grande player da indústria da música e o Submarino é um grande distribuidor de formatos de consumo de música, ambos deveriam se preocupar mais com a percepção dos seus consumidores.

Andando neste caminho, a indústria da música continuará decrescendo. Mesmo numa economia de transformação mais lenta como o Brasil, onde ainda se consome muito formato físico e pouco formato puramente digital, a indústria parece não se importar com o que pensam seus clientes.

O futuro dirá quem tinha razão.

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SOBRE O AUTOR

Rafael Rez

Autor do livro “Marketing de Conteúdo: A Moeda do Século XXI”, publicado pela DVS Editora. Possui MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2013. Fundador da consultoria de marketing digital Web Estratégica, já atendeu mais de 1.000 clientes em 20 anos de carreira. Co-fundador da startup GoMarketing.cloud. Fundou seu primeiro negócio em 2002, de onde saiu no final de 2010. Foi sócio de outros negócios desde então, mantendo sempre como atividade principal a direção geral da Web Estratégica. Além de Empreendedor e Consultor, é Professor em diversas instituições: HSM Educação, ILADEC, Cambury, ESAMC,ALFA, ESPM, INSPER. Em 2016 fundou a Nova Escola de Marketing.

6 respostas

  1. Concordo plenamente. Há uma falta absoluta de inteligência na industria fonográfica.
    Se há pirataria é melhor combate-la com preço e qualidade, (eterna lei de mercado). Mas fazem justamente o contrário : procuram se aproximar do produto pirata. E querem crer que estão nos enganando. Tenho a sensação que cada dia mais as coisas são tratadas com um “dar de ombros”. Ainda preservo cerca de 300 discos em vinil, que, sem falso saudosismo, tem um som que não fere o ouvido como o digital, e o material gráfico jamais foi superado por qualquer encarte de CD.

  2. A Música não acabou, mais os profissionais que a amam e que criaram a “Indústria” não estão mais lá. O respeito e a parceria que existia entre eles, desde fase inicial de algum projeto, até à forma de embala-lo ( como se fosse filho único ), acompanhando-o até o catálogo, acabou de forma melancólica.

    Max Pierre.

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