Autores: John Seely Brown & Paul Dugrid
Tempo Estimado de Leitura: 10 horas
Linguagem: Intermediária
Diagramação: Tradicional
Custo-Benefício: Muito bom
Páginas: 284
Editora: Makron Books
Lido em: Ag0-Set/2010
Onde encontrar: Submarino
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John Seely Brown foi durante muito tempo o homem à frente do PARC da Xerox, um dos mais bem sucedidos laboratórios de pesquisa e inovação tecnológica no mundo.
Dugrid é professor do Centro de Estudos Sociais e Culturais da Universidade de Berkeley e foi parceiro de Brown em alguns projetos, inclusive neste livro.
Brown é um grande contador de histórias. E além disso, ele tem muitas boas histórias para contar. Brown viu de perto muitas revoluções informacionais e tecnológicas do século XX acontecerem debaixo do seu nariz: a evolução da tecnologia da fotocópia (A.K.A. “xerox”), a invenção do mouse e da interface gráfica do computador (conhecida pelos insiders como Graphic User Interface ou apenas GUI).
Além de dirigir o PARC (Palo Alto Research Center) enquanto estas coisas aconteciam, ele viu os executivos da Xerox enfiarem várias destas inovações na gaveta e seus cientistas vendo-as escorrerem por entre os dedos.
O mouse e a interface gráfica decolaram quando o então iniciante empresário Steve Jobs as levou para a Apple e junto com Steve Wozniak criou uma versão de computador pessoal amigável e com interface gráfica avançada, dando início ao que no meio da década de 80 faria da Apple um sucesso. Não fosse e o Windows também não teria sido derivado do mesmo conceito e se popularizado mundialmente, fazendo da Microsoft uma gigante tecnológica e de Bill Gates um dos homens mais ricos do mundo.
Neste livro Brown conta estas histórias do ponto de vista de quem estava lá e viu como a forma das pessoas lidarem com a informação permitiu que as coisas acontecessem de uma forma ou de outra.
O livro começa sintonizando o leitor na discussão sobre a tal “Era da Informação” (tem gente que gosta de chamar de “Era do Conhecimento”, mas falta muito para a humanidade chegar lá). Logo no primeiro capítulo os autores fazem uma valiosa referência a Alvin Toffler, complementando a visão da terceira onda no que chamam da Visão 6-D. Estamos vivendo uma época de mudanças sócio-culturais profundas e muito rápidas, experimentando seis fenômenos infocêntricos:
- desmassificação
- descentralização
- desnacionalização
- despacialização
- desintermediação
- desagregação
Estas palavras representam forças desencadeadas pela tecnologia da informação que fragmentam a sociedade, centrando as transformações em duas bases da sociedade: o indivíduo e a informação. Mais à frente, os autores fazem análises mais profundas da desintermediação, o fenômeno que permite que uma vez que as pessoas tenham acesso a informação possam se tornar menos dependentes de intermediários, o que possibilitaria a conexão direta entre criadores de produtos informacionais (jornalistas, músicos, escritores, produtores) e os consumidores destes produtos.
Brown e Dugrid não chegam a fazer juízo de valor se isto é bom ou ruim, mas analisam o fenômeno do ponto de vista da circulação da informação: como ela é gerada, como se propaga, como se armazena, como é recuperada (para um juízo de valor sobre a desintermediação e a produção descentralizada na internet, sugiro a leitura de O Culto do Amador).
Interessante é que, como ambos são pesquisadores e professores, o livro discute também com propriedade como as pessoas aprendem na prática.
Um dos muitos exemplos usados no livro é do aprendizado organizacional dentro dos escritórios, que acontece de forma orgânica e muitas vezes informal, razão pela qual grande parte dos projetos de gestão de conhecimento falha: foca num aprendizado linear, teórico, rígido e tecnicista, ao invés de abordar o aprendizado experimental, mais socializado e menos infocentrista, que permite que os conhecimentos sejam em parte transmitidos pela história contada, pela experiência vivida, compartilhando o caminho e não só o resultado. Daí é que vem o título do livro: a informação como um bem social.
O capítulo 4 é dedicado ao confronto dos processos planejados com a prática diária: como a informação é percebida na prática e como as pessoas aplicam sua experiência prática para lidar com processos planejados num mundo idealizado, estático, perfeito. É um dos pontos altos do livro.
O capítulo 5 é dedicado ao aprendizado: na teoria e na prática. Contando casos reais de como empresas como Xerox e a HP lidaram com questões de gestão do conhecimento, os autores analisam erros e acertos na gestão dos processos informacionais que fazem parte do cotidiano das empresas: como reter informações, conhecimentos e experiências dentro das empresas? Ao tentar fazê-lo sem considerar o elemento humano como fator principal, o mundo corporativo falha neste quesito.
Do meio para o final do livro, a discussão recai sobre a educação. A forma como a sociedade trata a educação, a transformação de universidades em “fábricas” de diplomas e os desafios de se educar para lidar com a informação.
É um livro completo, abrangente e muito bem escrito. O tipo de obra de referência que qualquer estudante de Graduação poderia ler e qualquer um de Pós-Graduação deveria ler.
Só de Notas de Pesquisa, Bibliografia e Referências a outros textos o livro tem 49 páginas: da 225 à 274. É um volume enorme de referências de alta qualidade que os autores fazem questão de citar, indicar e comentar no final do livro. Daria para ficar alguns meses só lendo as referências.
É um livro ótimo e apesar de tudo, fácil de entender e de gostar. Para qualquer um que se interesse por ciência da informação e todas as áreas correlatas, é um livro fundamental. E para quem quer entender melhor este mundo de excesso de informação, é um excelente leitura. Não é um livro barato, mas vale cada centavo!
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