O discurso corrente é sempre o mesmo: persistir, persistir, persistir. “Você precisa ser resiliente.” “Não desista de seus sonhos.” “Acredite em você.” É uma enxurrada de auto-ajuda diária em qualquer lugar para onde se olhe.
Há dois anos ouvi de uma amiga um novo significado para a palavra desistir: deixar de insistir. Quando a Selma me explicou o termo desistir desta forma, tirou um grande peso das minhas costas.
Num ambiente cultural que valoriza o empreendedor como o novo herói e o empreendedorismo como uma nova religião, é mais importante parecer um empreendedor de sucesso do que realmente construir um negócio sólido.
Isso torna uma eventual desistência algo ainda mais difícil. Porque além de ter de abandonar um projeto no qual se investiu tempo, energia e dinheiro, será preciso vencer a barreira social de fracassar em público. Muitos preferem continuar gastando seu tempo, energia e dinheiro a assumir que seu projeto não deu certo.
Fundei minha primeira empresa muito cedo, aos 22 anos. Saí de um emprego estável para estudar fora do país, tive o visto negado e junto com mais 2 amigos fundei uma empresa. Crescemos, faturamos, casei, minha filha nasceu, fraturei a coluna, me formei, a vida mudou.
Até que em 2009 percebi que era hora de mudar de ares. Meu relacionamento com um dos sócios estava muito desgastado e ficou claro para mim que a empresa era pequena demais para ser dirigida por dois líderes. Decidi que eu sairia do negócio dali algum tempo.
Eu tomei a decisão mais difícil da minha carreira até então.
Em 2010 eu tinha 30 anos, não tinha grandes realizações profissionais e estava frustrado com os caminhos que o negócio estava tomando. Foi então que eu decidi desistir. Simplesmente desisti da sociedade. Saí com uma carteira de cerca de 10 clientes, mínima se comparada aos quase 400 clientes da empresa à época. Foi a melhor que decisão da minha vida profissional até então.
Em 2011 fundei a Web Estratégica, consultoria de marketing que mantenho até hoje. Em 2013 fui convidado para ser sócio de um evento. Em 2014 lancei um curso com um sócio. Em 2015 lancei outro curso com outro sócio. Em 2015 entrei em outra sociedade. De repente eu era sócio de negócios demais.
Foi então que tive de desistir novamente.
Eu trabalhava demais, mas não fazia a diferença em nenhum dos negócios. Foi em 2016 que finalmente entendi como tomava decisões ruins e priorizava de forma errada. E então eu desisti novamente, desta vez de forma estruturada e organizada. Saí de todas as sociedades e mantive apenas a Web Estratégica.
Entendi que a decisão mais importante a tomar era sempre desistir. Desistir de oportunidades diariamente. Aprender a dizer não. Cada convite, cada oportunidade, cada tentação de fazer algo novo, cada novidade é uma chance de desistir antes de começar. Tudo que tira seu foco do objetivo principal merece ser ignorado.
Esse é o grande poder do não. O não te permite desistir antes de começar. O não também te permite desistir depois de já ter feito uma longa caminhada. Deixar de insistir pode ser a melhor decisão da sua vida.
Aprendi que desistir garantiu a minha sanidade mental. Manter a cabeça no lugar me permitiu criar um novo negócio do zero, fazer centenas de palestras, dar dezenas de cursos, atender dezenas de clientes nacionais, escrever um livro, faturar milhões de reais e cuidar da minha família.
Se eu não tivesse desistido, nada disso teria acontecido.
Post originalmente publicado no meu perfil do Facebook.