Apesar de todas as expectativas exageradas, a IA não é um hype. É uma realidade que gradualmente será integrada ao cotidiano tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Enquanto milhões de brasileiros usam a IA como terapeuta ou companhia virtual, outros tantos adotam no trabalho para diferentes usos.
Em ambos os casos, sem perceber, a IA se torna meio para tomar decisões, seja de qual produto comprar, para onde viajar ou qual o melhor sistema para resolver um problema corporativo.
Chamo isso de “Era das Decisões Mediadas por IA”, os chatbots e assistentes virtuais estão se tornando guias invisíveis que moldam escolhas de forma quase imperceptível.
Para os profissionais de marketing, isso gera um desafio gigantesco.
Ao contrário dos cliques rastreáveis de um anúncio ou das métricas de uma campanha digital, essas decisões escapam das réguas tradicionais de mensuração.
Estamos entrando em um território novo, onde o impacto da IA é profundo e praticamente invisível.
Imagine uma pessoa planejando sua próxima viagem. Em vez de navegar por sites, clicar em links patrocinados ou comparar preços em abas infinitas, ela conversa com um assistente de IA.
“Quero um destino tranquilo, para casal, com boa gastronomia e menos de 3 horas de carro de São Paulo”. O chatbot, em segundos, sugere três opções, considerando preferências implícitas (talvez baseadas em conversas anteriores) e dados contextuais, como orçamento ou clima.
Isso se parece como algo personalizado para o usuário, e certamente economiza tempo, esforço e dezenas de decisões ao longo do processo de pesquisa.
A pessoa escolhe, mas não há cliques registrados, nenhum funil de conversão claro. A decisão nasceu de um “diálogo” com a máquina, não de uma sequência rastreável de ações.
Esse cenário ilustra uma mudança fundamental: as decisões mediadas por IA não seguem o modelo linear de causa e efeito que os marqueteiros e analistas estão acostumados a medir. No passado, cada clique era uma pegada digital, um sinal mensurável de intenção.
Agora a IA atua como um conselheiro silencioso, processando informações em tempo real, aprendendo (colecionando dados) com o contexto e influenciando escolhas sem deixar rastros óbvios.
Como atribuir o “crédito” a um chatbot que, em uma conversa de 30 segundos, ajudou alguém a escolher um curso, um investimento ou até uma mudança de carreira?
Essa invisibilidade desafia empresas e profissionais. As métricas tradicionais — impressões, cliques, conversões — não capturam o peso de uma conversa com um assistente de IA.
Quando um consumidor decide comprar um produto após um diálogo com um chatbot, não há um banner clicado, cupom ou um link de afiliado para contar a história.
A influência da IA é difusa, espalhada em interações que parecem humanas, mas são movidas por algoritmos. Isso levanta questões: como medir o valor de uma decisão mediada por IA? Como otimizar algo que não se encaixa em dashboards?
Por outro lado, essa era traz oportunidades.
As empresas que entenderem como construir assistentes de IA empáticos, transparentes e alinhados com os valores dos consumidores terão uma vantagem. Aqueles que continuarem produzindo e adaptando conteúdos para serem consumidos pelos bots e mastigados para o usuário serão protagonistas na mediação da decisão.
Um chatbot que “entende” o usuário, oferecendo respostas que parecem genuínas, pode criar laços mais fortes do que qualquer campanha tradicional.
Mas isso exige um salto: abandonar a obsessão por métricas granulares e abraçar a incerteza de um mundo onde as decisões são mediadas em conversas.
A era das Decisões Mediadas por IA é o próximo capítulo.
Ela nos convida a repensar o que significa “influenciar” e a aceitar que nem todo impacto pode ser rastreado.
O futuro das escolhas é conversacional, fluido e, acima de tudo, humano — mesmo que mediado por máquinas.
Sua empresa já está agindo nesse novo cenário?