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Não morda a isca: o Google não vai morrer por conta de TikTok e Perplexity

Me preocupa muito o fato de que gestores que tomam decisões baseadas em narrativas estão cometendo erros que custarão caro para suas empresas ou para suas carreiras.

Os fatos mostram que a realidade anda muito longe da narrativa, então vamos a eles.

Antes de mais nada, é inegável que sim, a apelidada “geração Z” faz muitas buscas no TikTok. O que não é dito é que fazem tantas buscas quanto fazem no TikTok também no Google.

Também é evidente que as ferramentas de IA generativa são muito inovadoras, amadurecem rápido e se tornarão cada vez mais presentes na vida das pessoas. Só que isso levará muitos anos e não poucos meses.

A questão é que, para chamar atenção, muita gente (a imprensa, os gurus, os influenciadores) usa a narrativa do fim de algo para o surgimento de outra coisa.

Mas a realidade se impõe.

Dados da Sonata Insights comparam o volume de buscas diário em diferentes plataformas e mostram que o Google continua líder disparado nas buscas, seguido do Youtube, do Bing, da Amazon,  do DuckDuckGo, eBay e até mesmo o Yahoo!

Pois é, até o saudoso Yahoo! tem mais buscas por dia que o TikTok.

O TikTok aparece lá no fim da curva, pouco antes do Perplexity, uma ferramenta de busca que entrega uma experiência de busca bem mais interativa que o Google, consultando várias fontes e fazendo um resumo do que encontrou.

O meu ponto central é muito direto e simples: hábitos mudam muito mais lentamente que a tecnologia.

O papo furado de que leva 21 dias para criar um novo hábito é uma lenda urbana que as pessoas adoram contar umas às outras, mas a realidade prova que criar novos hábitos é algo muito difícil.

Não fosse isso e todo mundo praticaria exercícios físicos, deixaria de consumir cigarros e álcool ou perderia peso com facilidade.

Hábitos são raízes fincadas no comportamento e que levam muito tempo, muitos anos, tanto para se formar quanto para se modificar.

O Google foi criado há cerca de 25 anos e permanece sendo o maior gerador de tráfego na internet, tanto orgânico quanto pago. Isso não vai mudar no horizonte próximo. O hábito de uso está formato, a ferramenta é onipresente e a empresa construiu um monopólio que inclui o Chrome, sistemas operacionais e pagamentos bilionários à Apple para ser a ferramenta de busca do iPhone, por exemplo.

Os jovens, conforme usam a tecnologia na adolescência e no início da vida adulta, formam novos hábitos de uso e levam isso para a vida toda.

Não à toa a cada ano vemos menos pessoas lendo a mais pessoas consumindo vídeos, isso não só entre os jovens mas na população como um todo. Essa transformação na forma de consumir conteúdo vem acontecendo há 20 anos, desde a explosão do Youtube, das redes sociais e do surgimento dos smartphones.

Da mesma forma que buscam no TikTok os jovens também buscam no Instagram, no Pinterest, no Facebook, no LinkedIn e em N outras plataformas, sociais ou não.

A adesão a novos formatos de buscadores é inevitável e acontecerá gradualmente ao longo da próxima década.

O próprio Google está tentando aprender, a duras penas, a oferecer melhores experiências nas respostas às buscas feitas nele.

Segundo Rank Fishkin, analisando os dados da Sonata, “a porcentagem de usuários de mecanismos de busca tradicionais que também usam plataformas de IA cresceu apenas 2 pontos no ano passado (2023).”

Também vale ressaltar que os usuários da plataforma de IA não desistiram de seus métodos antigos: 99% continuaram a usar mecanismos de busca tradicionais.

Os usos são paralelos, não excludentes.

Estranhamente isso não se parece em nada com os posts alegóricos que inundam a imprensa e o LinkedIn alegando que o Perplexity, o chatGPT ou o Gemini mataram o Google.

Se você é gestor de marketing, empreendedor, decisor ou mesmo apenas uma pessoa de razoável bom senso, a minha recomendação é ter muito cuidado ao tomar decisões baseadas em narrativas.

Diversifique seus canais de marketing, experimente novos canais e ferramentas, esteja à par das novas tecnologias, mas não abra mão de estar presente nos canais de onde o lucro realmente vem.

Neste momento do cenário digital, os três maiores canais de aquisição continuam sendo os mesmos: buscas, mídia em redes sociais e influenciadores.

Assim como o peixe morre pela boca, os gestores morrem pelas narrativas.

SOBRE O AUTOR

Rafael Rez

Autor do livro “Marketing de Conteúdo: A Moeda do Século XXI”, publicado pela DVS Editora. Possui MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2013. Fundador da consultoria de marketing digital Web Estratégica, já atendeu mais de 1.000 clientes em 20 anos de carreira. Co-fundador da startup GoMarketing.cloud. Fundou seu primeiro negócio em 2002, de onde saiu no final de 2010. Foi sócio de outros negócios desde então, mantendo sempre como atividade principal a direção geral da Web Estratégica. Além de Empreendedor e Consultor, é Professor em diversas instituições: HSM Educação, ILADEC, Cambury, ESAMC,ALFA, ESPM, INSPER. Em 2016 fundou a Nova Escola de Marketing.

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