Eu cresci sendo educado num mundo em que pretensamente havia estabilidade. Todos nós crescemos nele. É um mundo de fantasia. Estudar, se formar, fazer uma Pós ou MBA, trabalhar numa boa empresa, ter bom desempenho, ser promovido, esperar 30 anos, se aposentar. O Status Quo padrão.
Fui um dos melhores funcionários que uma empresa poderia sonhar em ter. Era um “portal de internet”. Trabalhava com vontade, chegava antes do horário e saía depois. Ralava com tesão. Inovava, trazia idéias, trazia gente pra equipe, me dava bem com todo mundo, trabalhava de final de semana quando era preciso. Tive 3 aumentos em 18 meses de empresa. Um dos primeiros “Arquitetos de Informação” na Carteira de Trabalho no Brasil. Puta orgulho! Cheguei a trabalhar por 48 horas direto no 11 de setembro, mesmo dia em que o Prefeito de Campinas foi executado. Foi uma experiência profissional incomparável. Éramos moleques (eu tinha 22 anos) e demos conta de uma bronca que muito marmanjo experiente não seguraria.
Nunca fiz uma coisa só. Tinha programa na Rádio, toda quinta e domingo tocava rock’n’roll por horas a fio. Organiza shows, excursões, festivais. Trabalhava como voluntário. Doava sangue, 52 vezes, até as veias ficarem grossas. Fui Presidente de Grêmio escolar. Na Faculdade participava do D.A. Larguei 3 Faculdades, só me formei em 2009, só pra constar. O que eu sei fazer aprendi fazendo, nenhuma Faculdade ensina. “A vida é muito curta pra ser pequena”, diz o Cortella.
Em 2002 resolvi viver um tempo fora do país. Pedi demissão, vendi carro, vendi minha câmera Pentax, me despedi dos amigos. Não deu certo, visto negado. Me juntei com dois amigos, montamos uma empresa. Em 3 anos éramos a segunda maior da cidade, chegamos a ser uma das maiores do Estado de São Paulo. Dezenas de funcionários. Eu “estive” empreendedor nesta empresa por 5 anos. Foi só em 2007 que virei a chave e entendi que nunca mais trabalharia como funcionário. “Virei Empreendedor”. Sem diploma mesmo, soca a bota, bora fazer.
Em 2010 saí desta Sociedade e montei outra empresa. Fiquei sócio de outras quatro empresas desde então. Saí de duas.. Lancei alguns projetos relevantes. Vendi uma empresa. Recebi convites para trabalhar em grandes empresas. Disse não. Tomei um calote de R$ 300.000 em 2014. Mandei gente embora. Gente que eu aprendi a respeitar, me preocupar, cuidar. Chorei, me senti um merda, quase desisti. Paguei a dívida. Recomecei. Shit happens, move on módafóca.
O país não ajuda. Governo ruim, corrupção, burocracia, impostos complicados, mudanças de regras, instabilidade. Receber investimento de fora é punk.
Quando fiz meu primeiro curso de Empreendedorismo eu nem sabia que um dia ia ter um CNPJ. Empreender é foda. Dói pra caralho. É preciso acreditar muito, fazer, errar, aprender, pedir conselhos, aceitar ajuda, errar de novo, acertar, aprender, crescer, se superar, se cercar das pessoas certas, fugir das erradas. A cabeça não desliga nunca, é pesado. Ao contrário do mantra, não é pra qualquer um. Nervos de aço.
Hoje, se pudesse voltar atrás, faria muita coisa diferente. Virar gente grande não é fácil. Tem hora que dá vontade de ter 17 anos e organizar festivais de rock de novo.
Empreendedorismo pra mim é uma doença incurável. Acomete quem tem idéias das quais não consegue se livrar, fome de realizar e muita vontade de fazer algo relevante acontecer. Para mim não é o dinheiro que move o verdadeiro empreendedor. O dinheiro é a consequência. O que move o empreendedor é essa doença de fazer acontecer, de ser relevante, de realizar aquilo que está tirando o sono.
E para você? O que é Empreendedorismo?